Existe uma abordagem que pode ser utilizada nas micros, pequenas e médias empresas que as ajudam a inovar. Essa abordagem é o Design Thinking. Quer saber como implementar essa forma inovadora de pensamento no seu negócio? Vem que te conto tudo o que você precisa saber :)

O que é Design Thinking

É uma abordagem que busca solucionar problemas complexos, colocando pessoas no centro do pensamento e de qualquer desenvolvimento. Ou seja, é uma forma de pensar (mindset) que ajuda empresários e colaboradores a chegarem em respostas de forma colaborativa e com base em dados reais.

O Design Thinking segue um fluxo que consiste em mapear todos os fatores envolvidos em um problema complexo, com objetivo de adquirir uma visão sistêmica dele e uma solução completa. Todo o fluxo é gerado a partir do levantamento das reais necessidades dos envolvidos com o problema e pode ser utilizado linearmente, ou não.

Fonte: IDEO

Ele é considerado um processo criativo em que, por meio de métodos, podemos identificar problemas e gerar soluções inovadoras com base em três grandes pilares: empatia, colaboração e experimentação.

Fonte: Tera

O Design sempre existiu, mas com a aceleração do mundo Volátil, Instável, Complexo e Ambíguo (VUCA) em que vivemos, se tornou necessário inovar na própria cultura do desenvolvimento de produtos e serviços. Para que as empresas consigam se manter relevantes nesse ambiente competitivo se faz necessário utilizar desta forma de pensar e criar.

O mercado está cada vez mais digitalizado, as empresas estão desenvolvendo mais produtos com mais facilidade e rapidez. Os competidores estão por todo lado, em grandes quantidades e com novas propostas de valor. Consumidores estão diante de uma imensidão de opções de produtos e serviços, tornando-se cada vez mais exigentes, pois podem optar pelo melhor e mais barato.

Existem vários modelos de aplicação do Design Thinking, com cinco etapas ou mais, com flexibilidade de tempo para finalizar ou não. Contudo, vou utilizar aqui uma linha de pensamento que contempla todos esses modelos e mostrar exemplos para ficar bem claro como você pode aplicar na sua pequena e média empresa. Vamos lá?

Lembrando que os momentos da abordagem de Design Thinking listados abaixos devem ser ordenados e adaptados a cada desafio complexo analisado:

Empatia: momento de conhecer o contexto de quem sente a dor, suas necessidades e ganhos desejados.

Definição: análise das informações obtidas no momento de empatia, foco do time em convergir, determinando quais dores serão priorizadas na solução.

Ideação: momento de divergir gerando ideias que atendam às necessidades e dores dos usuários entrevistados, a partir do desafio definido no último momento.

Prototipagem: construção do protótipo da ideia priorizada na etapa de ideação. Aqui elaboramos um esboço do que será testado e validado com as personas do nosso desafio, assim saberemos se estamos, ou não, no caminho mais adequado para a solução.

Teste: neste momento coletamos feedbacks e insights da solução prototipada. O objetivo é iterar (alterar a solução) até que se tenha a melhor versão dela, ou seja, com mais valor agregado para nossa persona. Então, seguiremos para a implementação com foco em tornar a entrega escalável.

Antes de analisarmos cada etapa vamos ver alguns exemplos de empresas que, sem saber ou não, aplicaram os princípios do Design Thinking e obtiveram resultados:

Design Thinking na prática em PMEs

A empresa Kit LIVRE® mostra na prática como ser relevante e ter propósito para seus colaboradores e seus clientes.

Ela criou uma solução que aumenta a liberdade das pessoas que dependem de cadeira de rodas, utilizando um dos pilares do design thinking a empatia.

A dor do seus usuários é deslocar-se por calçadas, muitas vezes danificadas, não conseguir descer e subir desníveis com facilidade e não conseguir se sentir ativo, mesmo em cadeiras de rodas motorizadas.

Sua solução foi o Kit Livre® que pode ser fixada a qualquer modelo de cadeira de rodas manual , tornando-a em um triciclo motorizado elétrico, o que aumenta significativamente a mobilidade, proporcionando liberdade e autonomia para o usuário.

A proposta do Kit Livre® é permitir que o cadeirante consiga realizar todos movimentos que desejar de modo seguro, confortável e divertido. A motivação do trabalho da LIVRE® é: “Tornar os usuários de cadeiras de rodas protagonistas de suas vidas.”

Fonte: Kitlivre

Já a Cliever enxergou o crescimento do mercado de impressoras 3d em 2012, porém nesta época o alto custo das impressoras 3D impossibilitava que as pequenas e médias empresas utilizassem a impressora em seu dia a dia.

Foi com esse olhar centrado no usuário, um princípio do design thinking, que a Cliever inovou, fabricando impressoras 3D a baixo custo. Com foco no setor das indústrias em empresas que investem em prototipagem para desenvolvimento de seus produtos.

Uma das preocupações do fundador, Rodrigo Krug, era não apenas fabricar o produto mais barato, mas torná-lo fácil para que qualquer empresa pudesse ter uma impressora 3D, e conseguir utilizá-la, de forma barata por meio do software, que também é desenvolvido por ele.

Hoje a Cliever é pioneira nacional em impressoras 3D!! Esse exemplo nos mostra a importância da definição do seu nicho, a empatia que devemos ter com eles e como nos diferenciar no mercado através da inovação.

Fonte:Instagram Cliever3d

A Casa Goudinho é outro exemplo de utilização do pilar do design thinking experimentação para manter seu comércio em pé por mais de 100 anos, e ainda no centro de São Paulo, onde as novidades chegam primeiro.

Ela superou desavenças entre sócios, turbulências e ciclos econômicos e se manteve relevante para seu público. Testou e implementou novas opções de produtos para atrair mais consumidores.

Fonte: Instagram Joaokato

Agora que já vimos exemplos de aplicação dos pilares do design thinking vamos nos aprofundar em cada etapa:

Etapa de empatia

Fonte: IDEO

“Não existe um script para empatia. Não há um jeito certo ou errado. É simplesmente ouvir, dar espaço, suspender julgamentos, conectar emocionalmente e comunicar a incrivelmente curativa mensagem de “você não está sozinho(a)”. Brene Brown, pesquisadora e contadora de histórias.

Observação importante: não confunda SIMpatia com EMpatia. Simpatia é estabelecer um sentimento de afinidade com outra pessoa, estar em harmonia com os sentimentos alheios. Empatia é deixar de lado os próprios valores e preconceitos para compreender a realidade interna do outro, independentemente de estar de acordo ou não com ele.

Atitudes empáticas:

  • Se preocupe em aprender, esteja genuinamente interessado em descobrir algo novo
  • Ouça ativamente as histórias e tire insight do que está sendo dito sem palavras.
  • Identifique e pergunte os medos, felicidades e desejos.
  • Vá até a raiz do problema, não tem problema fazer perguntas quase repetitivas, assim você conseguirá entender todas as perspectivas.

Ferramentas utilizadas neste momento

  • Golden circle: desenvolvido por Simon Sinek, onde procuramos entender, primeiramente, o porquê do problema, depois o como e então o que será a solução.
  • 5 por quês: inicie fazendo uma pergunta ampla do desafio e então pergunte “por quê?” cinco vezes seguidas.
  • Entrevistas qualitativas: entrevistas abertas e profundas com usuários para explorar o problema em detalhe.

Etapa de definição de desafio

Fonte: IDEO

A etapa de definição é onde sintetizamos as informações coletadas na etapa de empatia e fazemos análises para obter insights inspiradores para o problema complexo.

Este momento é para restringir, convergir e determinar todas as dores que serão priorizadas para desenvolvermos uma solução. O objetivo é elaborar, com clareza, o problema que iremos solucionar.

Para isso existem algumas boas práticas como: deixar visual todas as informações coletadas, classificar as informações em clusters, reescrever cada cluster com a ideia principal, procurar por padrões, comece a identificar a sua persona e o perfil mais extremo dela. É importante ter um time de trabalho que possua pessoas estratégicas para fazer o link entre as informações e gerar bons insights.

As ferramentas que costumam ser utilizadas no momento de convergir, agrupar as informações são

  • Mapa de empatia: utilizado para agrupar informações das pesquisas qualitativas, em quatro grupos: o que os entrevistados pensam e sentem; o que eles vêem; o que eles falam e fazem; e o que eles ouvem. Obtenha o pdf aqui.
  • Matriz impacto x esforço: em uma matriz de quatro quadrantes de maior e menor esforço e maior e menor impacto, é possível ver com clareza qual é o cluster com maior valor e menor esforço para produção. Aqui tem explicação em detalhe
  • Ponto de vista: análise pela qual colocamos a pessoa no centro da análise identificando a dor, como ela age e se alguma solução existente resolve o problema dela. Resumir em uma única frase com os 3 pontos abaixo. i) usuário: quem é a persona, suas características, estilo de vida e percepções; ii) necessidade: qual é a necessidade ou dor que você está tentando resolver. iii) insight: o que você percebeu, algo inesperado, uma analogia, ou uma contradição. Aqui tem explicação em detalhe.
  • Como nós podemos: é um gatilho para iniciarmos a próxima etapa, a etapa de ideação. Neste momento iremos pegar o POV e transformar numa pergunta (How Might We), fazemos isso para facilitar o processo de ideação a partir da definição do público, das dores e dos comportamentos. Veja exemplos aqui.

Etapa de ideação da solução

Fonte: IDEO

“Ideação é o momento do processo de design em que você se concentra na geração de ideias. Mentalmente, isso representa um processo de “ir além” em relação a conceitos e respostas.”_Livro _“An Introduction to Design Thinking”, da d.school

Agora que temos o problema bem definido e escrito num formato de pergunta chegou a etapa de pensar em ideias que solucionem o problema atendendo as dores e agregando valor para quem for usar a solução.

Na fase da ideação toda e qualquer ideia é bem vista e escrita em post its. Aqui é o momento de fazer as perguntas certas e inovar, sair das soluções óbvias e aumentar o potencial inovador da sua solução, agrupar perspectivas e pontos fortes das pessoas que estão no time de desenvolvimento, cobrir todas as áreas e perspectivas do problema, pensar em soluções diferentes do comum, disruptivas e direcionar o time para pensar além das ideias tradicionais.

Existem algumas técnicas de criatividade que auxiliam neste momento, são ferramentas para divergir, desarmonizar, desconcertar, diferenciar e diversificar. Por isso, algumas regras devem ficar bem claras para todo o time, como: não julgar as ideias dos outros e estar aberto a receber críticas.

Primeiramente é feito um warm up, ou seja, uma atividade rápida que serve para energizar e integrar o time que está desenvolvendo. Veja algumas opções aqui.

Então, a oficina se inicia com um brain dumping, onde os participantes irão escrever as ideias que possuem, livremente em post its, de forma individual. Podem ser inseridas algumas constraints, como: “e se tivéssemos todo o dinheiro do mundo para desenvolver a solução?”, ou “e se fossemos crianças, quais ideias teríamos?”. Após esse momento individual é feito um brainstorm, discussão em grupo sobre as ideias criadas com o objetivo melhorá-las.

Todas essas técnicas podem ser feitas presencialmente, ou de forma remota por meio de plataformas como Mural, Stormboard em conjunto com plataformas de videoconferência (Google Meet, Zoom e etc). Em conjunto ao brainstorm pode ser utilizado a técnica “Substitute, Combine, Adapt, Modify, Put to another use, Eliminate, Reverse” (SCAMPER) onde cada ideia pode ser analisada por uma das sete ações ou todas elas.

Após ter uma quantidade satisfatória de ideias chegou a hora de convergir novamente, priorizando a ideia que será prototipada e testada primeiro. Para isso podemos utilizar métodos algum dos métodos abaixo:

  • Votação: cada participante recebe a mesma quantidade de votos e escolhe a que acredita ser melhor
  • Matriz de priorização: ajuda a ordenar as ideias por qualquer categoria que você queira, identificando o que é mais importante com base em critérios claros e relevantes para todo o grupo. Obtenha o pdf aqui
  • Método de quatro categorias: as ideias são categorizadas de mais racional para mais a improvável. Fazendo com que os participantes não fiquem enviesados em ideias muito práticas, ou muito disruptivas. Obtenha o pdf aqui

Etapa de prototipagem da solução

Fonte: IDEO

“Se uma imagem vale mais que mil palavras, então um protótipo vale mais que mil reuniões.” Mantra da IDEO, empresa referência em Design Thinking

Chegamos à etapa de tangibilizar sua ideia. Este é o momento de desenvolver uma primeira versão, um esboço, da ideia de solução priorizada, sem gastar tempo, dinheiro e outros recursos.

O objetivo desta etapa é analisar a ideia da solução, aprender mais sobre o problema definido e validar e se a solução ideada é relevante para quem irá usar. Por existir o risco de o usuário não validar a solução é melhor que seja feito de forma rápida e barata. Justamente por isso não existe receita para fazer um protótipo. Cada equipe irá fazer do seu jeito e cada ideia poderá ser tangibilizada de diferentes formas.

Os protótipos podem ser desde um esboço em papel ou storyboards digitais e até um modelo físico de role-playing. Como Jerry Cao, UX Content Strategist da UXPin, disse: “protótipo é uma versão simulada ou amostra de um produto final, utilizada para testes antes do lançamento.”

Para desenvolver o protótipo é preciso um toque de criatividade de como tangibilizar uma ideia, em pouco tempo e sem recursos, a ponto de um usuário conseguir testá-la. São tantas formas de fazer um protótipo que a melhor prática é procurar, se inspirar e manter sempre um repertório recheado sobre o problema definido e a ideia de solução priorizada.

Etapa de teste do protótipo

Fonte:IDEO

O objetivo desta última etapa é descobrir se sua solução resolve os problemas dos seus usuários no dia a dia. Vamos testar a experiência da persona por meio do protótipo. É hora de falar com ela novamente e descobrir quais dores sua ideia soluciona, como ela se sente ao utilizá-la, quais melhorias podem ser realizadas, qual o impacto da solução em sua vida.

A etapa de teste gera insight para todo o projeto, retroalimentando as outras etapas do processo do Design Thinking, ela é o fim e o começo do Design Thinking.

Essa etapa não tem limite em relação a quantas vezes é preciso testar, nem regras — receita de bolo sobre como fazer o teste. A única premissa é estar aberto ao erro (acreditem isso não é tão fácil!). O teste pode mostrar que a ideia de solução não era a melhor opção, ou que a definição do problema não estava correta. Nesse momento é primordial desapegar e abandonando a ideia escolhida. Lembre-se “Erre cedo para acertar cedo”__ — Tom Kelley

Algumas boas práticas que a INOVAndo coloca em prática são:

  • Tenha opções de protótipos para que as personas entrevistadas possam compará-los e dizer quais preferem e porquê.
  • Não explique o protótipo ou a ideia mais do que o necessário, deixe a persona interagir sozinha e observe suas reações, suas perguntas e suas expressões.
  • Tenha um roteiro de perguntas para acompanhar toda a experiência. Por exemplo, pergunte: “O que você quer dizer quando diz…”, “Como isso fez você se sentir?” e “Porque você fez isso ou aquilo?”.
  • Abra o coração para os receber os feedbacks, lembrando que eles são presentes, e quando ganhamos presentes que não nos serve agradecemos e nos desfazemos depois :)

Conclusão

“Estamos aqui para fazer alguma diferença no universo, se não, porque estar aqui?” Steve Jobs

O Design Thinking prevê que realmente estejamos fazendo a diferença no mundo por meio dos nossos serviços e produtos. Essa é uma das abordagens que depois que você utiliza nunca mais irá conseguir resolver problemas complexos de outra forma.

Fonte:Design interaction

E para concluirmos, lembre-se que as cinco etapas detalhadas neste artigo - empatia, definição, ideação, prototipação e teste - não precisam ou devem ser etapas sequenciais, elas são “modelos” que você pode usar durante cada fase do seu projeto o objetivo delas é facilitar o máximo possível do aprendizado e valor do projeto.

E por último, mas SUPER importante: Temos experiência com consultoria de inovação em pequenas e médias empresas nos mais diversos segmentos. Mande a sua mensagem para nós pelo e-mail contato@inovandonapratica.com.br, ou pelo nosso whatsapp 16 99637 2820.

Vamos conversar? Vem com a gente ;)